E aí, pessoal. Gleydson na área.
Esses dias, num daqueles impulsos que a gente não sabe bem de onde vem, me peguei fuçando os cantos mais empoeirados dos serviços de streaming. A missão? Reencontrar um velho amigo, uma paixão de infância: o filme “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!”. Lembro de assistir na Sessão da Tarde, de chorar de rir sem entender metade das piadas. Mas agora, em 2025, exatos 45 anos depois do seu lançamento, a pergunta era outra: será que ainda funciona?
Posso lhes confessar? A resposta é um sonoro “sim” e um assustado “de jeito nenhum”, tudo ao mesmo tempo. É uma viagem no tempo agridoce e absolutamente hilária.
Para os Desavisados: Um Pouco da História e da Trama
Antes de mais nada, para quem nunca embarcou nesse voo: a premissa é simples. Ted Striker é um ex-piloto de caça traumatizado pela guerra e com um medo mortal de voar. Ele embarca num voo comercial para tentar reconquistar sua namorada, a comissária de bordo Elaine. O problema? A tripulação inteira (pilotos incluídos) sofre uma intoxicação alimentar gravíssima após comer o peixe do jantar. Adivinha quem é o único a bordo capaz de pousar o avião? Exato.

Mas a genialidade aqui não está na história, e sim na sua origem. O que pouca gente sabe é que “Apertem os Cintos” é uma paródia quase cena por cena de um filme de drama de 1957 chamado “Zero Hour!”. Os diretores compraram os direitos do filme antigo só para poder zombar de seu roteiro excessivamente sério. E pensar que essa loucura de 88 minutos, feita com um orçamento de troco de pão (cerca de 3,5 milhões de dólares), virou um fenômeno que arrecadou mais de 170 milhões no mundo todo. É a prova de que uma boa piada vale ouro.
Uma Metralhadora de Gags que Nunca Fica Sem Munição
Agora que você já sabe do segredo, tudo fica melhor. A primeira coisa que te acerta em cheio é a densidade das piadas. Não há um segundo de respiro. Se você piscar, perde três gags visuais e um trocadilho infame. É uma comédia que não te subestima; ela atira para todos os lados, confiando que uma hora vai acertar seu ponto fraco.
Rever o Dr. Rumack (Leslie Nielsen) com sua cara séria dizendo “Eu só quero te desejar boa sorte. Estamos todos contando com você” repetidas vezes é de uma genialidade ímpar. O piloto automático inflável, Otto? A “pequena” dificuldade de Striker em pilotar? É tudo tão absurdo, tão anárquico, que funciona como um antídoto para o mundo certinho em que vivemos.
O Elefante na Sala de Embarque: O Humor “Errado”
Mas… e aqui entra o “de jeito nenhum”… nem tudo são flores. Cara, como tem coisa errada nesse filme! Assistir a “Apertem os Cintos” em 2025 é como encontrar o diário do seu avô e descobrir que ele contava umas piadas bem cabeludas na juventude.
Se a comédia fosse o universo da Marvel, “Apertem os Cintos” seria o Deadpool dos anos 80: boca suja, quebrando a quarta parede e sem o menor filtro ou medo de ofender. As piadas com os passageiros negros falando “jive” (gíria), as insinuações sexuais que hoje fariam qualquer RH ter um colapso e um tratamento geral das personagens femininas que, bem, digamos que não passaria no teste de Bechdel. É impossível não se contorcer um pouco no sofá.
E Agora, a Gente Cancela o Voo ou Absolve o Piloto?
Então, o que fazer? Cancelar o filme e jogá-lo na fogueira do revisionismo? Não, acho que o caminho não é esse. “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!” é mais do que só uma comédia; é um documento, uma fotografia amarelada de uma época em que o humor não tinha os freios sociais que tem hoje.
Assistir a ele é um exercício fascinante. É rir com culpa, é entender que as sensibilidades mudam (e ainda bem!), mas também é admirar a coragem e a criatividade de um tipo de comédia que, para o bem e para o mal, provavelmente nunca mais veremos ser feita. É uma cápsula do tempo caótica, brilhante e, sim, muito, mas muito errada.
No fim das contas, a experiência valeu cada segundo. Se você tiver estômago e conseguir contextualizar, embarque nesse voo. Só não espere uma viagem tranquila.😉
Para finalizar, Qual Lição o Filme nos Passa?
Em hiopótese alguma, em nenhum momento da sua vida:
jamais escolha o peixe 🐟 no jantar de um avião!
Referências:
- A Paródia de “Zero Hour!”: O site The Movie Database (TMDb) detalha como o roteiro de “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!” foi baseado diretamente no filme de drama “Zero Hour!” (1957), confirmando a origem da paródia.
- Sucesso de Bilheteria: O Box Office Mojo, principal referência em dados de bilheteria, confirma que o filme, com seu modesto orçamento de $3.5 milhões, arrecadou mais de $83 milhões apenas nos EUA e Canadá, tornando-se um dos maiores sucessos de 1980.
- A Carreira de Leslie Nielsen: A biografia de Leslie Nielsen na Wikipedia documenta extensivamente sua carreira anterior como um ator sério em dramas e filmes B antes de “Apertem os Cintos!” o transformar em um ícone da comédia, o que fundamenta nossa menção à sua mudança de carreira.
Imagem:
- Divulgação/Paramount Pictures.