Sabe aquele desejo que surge do nada e se instala na sua mente? Pois é. Meu mais novo sonho de consumo tinha nome e sobrenome: Kindle Colorsoft, o tal do Kindle com tela colorida.
Desde que a Amazon anunciou o lançamento, no ano passado, eu venho namorando a ideia. Imagina só, poder ver as capas dos meus livros com suas cores originais, navegar por uma interface mais viva e, quem sabe, até me aventurar por uma história em quadrinhos ou outra.
Mas aí, a gente cai na real.
Eu tenho um Kindle Paperwhite de 2020. Um guerreiro (um pequeno arranhão quase imperceptível do lado esquerdo quase fez meu coração parar, mas fora isso está como novo). Funciona que é uma beleza, a bateria dura uma eternidade (uns 2 meses com uso intenso e, vamos ser sinceros, para ler as palavras de um romance, o preto e branco dá conta do recado com maestria.
A grande, e talvez única, vantagem do Colorsoft é mesmo a tela colorida. Será que isso justificaria o investimento? Quando coloco na balança, a coragem vai embora. O preço é mais que o dobro do que paguei no meu, e a troca seria mais um luxo estético, um agrado para os olhos na tela inicial, do que uma necessidade real. Por enquanto, a razão está vencendo a emoção.
Mas, deixando de lado o meu dilema pessoal, o que exatamente é esse Kindle que já nasceu causando tanto alvoroço?
A Promessa de um Mundo em Cores
Lançado como Kindle Colorsoft Signature Edition, o aparelho chegou prometendo ser a revolução que muitos leitores esperavam. A Amazon afirmou que só lançou o produto agora porque a tecnologia finalmente estava “pronta”. Eles desenvolveram uma nova pilha de display baseada na tecnologia Kaleido da E Ink, com o objetivo de entregar cores sem sacrificar o que a gente mais ama no Kindle: a alta resolução (300 ppi, a mesma do Paperwhite), a longa duração da bateria e a rapidez para virar as páginas (pelo menos no paperwhite).
As primeiras impressões de quem testou foram animadoras. A tela, apesar de não ser um espetáculo no nível de um iPad, era nítida o suficiente para fazer quadrinhos e capas de livros saltarem aos olhos. Pela primeira vez, era possível fazer marcações no texto com cores diferentes, um recurso pequeno, mas bem interessante. A interface, de modo geral, ficou mais agradável. É como finalmente ver o pôster do seu filme favorito em 4K depois de passar a vida inteira vendo em uma TV de tubo. A essência é a mesma, mas a experiência é inegavelmente mais rica.
O Banho de Água Fria: A Tela Amarelada
Tudo parecia perfeito demais para ser verdade, e infelizmente, era. Pouco tempo após o lançamento, começaram a pipocar as reclamações. O grande vilão da história? Uma misteriosa tonalidade amarelada na tela, ou, em alguns casos, uma faixa amarela bem visível na parte inferior do dispositivo, resultado de um aparente vazamento de luz dos LEDs. 😫
O problema se tornou o “calcanhar de Aquiles” do aparelho. A Amazon precisou adiar as entregas de novas remessas, jogando a previsão para perto do Natal nos EUA e para o ano seguinte no Reino Unido. O Colorsoft rapidamente se tornou o Kindle com a pior avaliação da linha. Segundo o analista Ming-Chi Kuo, a falha pode estar em um “adesivo óptico transparente” usado para unir a tela, um componente que não existe nos modelos preto e branco.
A empresa reconheceu o problema em um “pequeno número de unidades” e ofereceu reembolsos ou trocas. No entanto, a realidade para alguns consumidores foi frustrante. Há relatos no Reddit de usuários que receberam um aparelho substituto em condições ainda piores que o original e foram orientados a esperar meses por uma solução definitiva.
Diante desse cenário, meu dilema ficou bem mais fácil de resolver. A vontade de ter um Kindle colorido continua aqui, guardadinha. Mas, por enquanto, ela vai ter que esperar uma segunda geração, mais madura e confiável. O meu velho e bom Paperwhite segue invicto na minha cabeceira, provando que, às vezes, a tecnologia funcional que a gente já tem em mãos vale muito mais do que um sonho de consumo com defeito de fabricação.
E olha… Nem adianta dizer que vamos esperar que o meu quebre para pegar um novo colorido, pois o Kindle é um aparelho quase que indestrutível! Sei disso porque na minha gaveta ainda tenho o meu velhinho comprado em 2014 funcionando perfeitamente (troquei ele por conta do tamanho da tela e para poder ler na borda da piscina, já que o Paperwhite é a prova d’água).

Referências:
- theverge.com/2023/9/20/23881373/amazon-kindle-colorsoft-price-release-date-specs
- hardware.com.br/noticias/2023-11/amazon-adia-entrega-do-kindle-colorido-por-causa-de-problema-na-tela.html
- Good e-Reader – Análise do Kobo Clara Colour (Tecnologia Similar): Este artigo detalha os prós e contras da tela E-Ink Kaleido 3, a mesma tecnologia base do nosso “Colorsoft”. A análise menciona que, embora as cores sejam um avanço, elas podem parecer “lavadas” ou menos vibrantes em comparação com telas de tablets, um ponto que abordamos.
- The Verge – Outro Lançamento Colorido, o PocketBook InkPad Color 2: Esta análise de um concorrente mostra que o desafio da tela colorida não é exclusivo de uma marca. Eles também discutem o equilíbrio entre a vivacidade da cor e a duração da bateria, um dos sacrifícios que a Amazon alegou não querer fazer.
- Fórum do Reddit – Discussão sobre “Yellow Tint” em E-readers: Este tópico mostra uma discussão de usuários sobre o problema de “manchas amareladas” em diversos modelos de e-readers, confirmando que este é um problema conhecido e recorrente na tecnologia de iluminação de tela, corroborando os relatos que incluímos no post.
Imagens:
- Arquivo pessoal e Engadget.