E aí, tudo certo por aí?
Deixa eu te fazer um papo reto. Outro dia eu me peguei no meio do furacão de sempre: trabalho, boletos, aquele zumbido constante de notificações e uma lista de tarefas que parecia ter vida própria. Sabe aquela sensação de estar jogando a vida no modo automático? Você acorda, cumpre o protocolo e, quando vê, já é noite e o repeat está programado para o dia seguinte.
É fácil se perder nessa correria. A gente vira um mero reagente aos acontecimentos, um NPC na nossa própria história. Mas a verdade é que, se a gente não puxar o freio de mão de vez em quando, a vida passa e a gente nem vê.
Pensando nisso, eu criei um sistema para mim. Algo como cinco âncoras mensais para me manter são, presente e, principalmente, para me lembrar que existe um Gleydson fora da rotina esmagadora. Não é nenhuma fórmula mágica, mas sim cinco dias que você agenda, de forma inegociável, para impedir que a maré do caos te leve para longe de quem você é.
1. O Dia do “Inventário”: Colocando a Vida em Ordem
A vida adulta tem uma tendência natural ao caos. Num piscar de olhos, a pia está cheia, a caixa de entrada tem mais de mil e–mails não lidos e a sua mente parece um navegador com 37 abas abertas – todas tocando uma música diferente.
É por isso que o primeiro dia inegociável é o “Dia do Inventário”. Pense nele como aquele momento em um jogo de RPG em que você para em um lugar seguro para organizar sua mochila, ver quais poções ainda tem e se livrar do lixo acumulado que só está fazendo peso. Não é a parte mais emocionante da aventura, mas sem ela, você não sobrevive ao próximo chefe.
Nesse dia, o foco é simples:
- Limpar o cenário: Lavar a roupa, arrumar o quarto, dar um jeito na louça. Um ambiente organizado ajuda a mente a respirar.
- Zerar as pendências: Pagar aquelas contas chatas, responder os e-mails que você estava adiando e, principalmente, cancelar aquelas assinaturas que você nem lembrava que tinha.
- Calibrar o sistema: Limpar o desktop do computador, organizar os arquivos em pastas e, o mais importante, planejar as refeições da semana. Pode parecer besteira, but it’s a game-changer.
Ninguém vai te dar uma medalha por isso. Mas a paz de espírito de saber que a sua “base de operações” está em ordem é a melhor recompensa.
2. O Dia da “Higiene Digital”: Reduzindo o Ruído ao Máximo
Sei o que você deve estar pensando: “Desconexão total? Gleydson, em que mundo você vive?”. Hoje, nosso trabalho, nossas contas, até o pedido do jantar passa por uma tela. É impossível simplesmente apagar o mundo digital. E tudo bem. A meta aqui não é o radicalismo, é a intenção.
Por isso, o segundo dia é sobre praticar uma “Higiene Digital”. Pense nele não como puxar o cabo da tomada da Matrix, mas como aprender a enxergar o código, a controlar o fluxo de informação em vez de ser afogado por ele. É sobre usar a tecnologia a seu favor, e não o contrário.
Nesse dia, você vai, intencionalmente, evitar ao máximo o barulho desnecessário:
- Silencie as notificações não essenciais: O alerta do seu banco sobre uma compra? Ok, pode ser útil. A notificação de que fulano postou uma foto nova? Totalmente dispensável por hoje. Seja impiedoso com os ladrões de atenção.
- Faça um “jejum” de redes sociais: Acredite, o scroll infinito estará exatamente no mesmo lugar amanhã. O que não estará lá é este dia que você pode usar para si mesmo. Deixe o feed de lado e alimente sua mente com um livro, uma conversa ou simplesmente com o silêncio.
- Use as telas com um propósito: Precisa usar o computador para resolver algo do trabalho ou pagar uma conta? Sem problemas. Faça o que precisa ser feito e… feche o notebook. Resista ao clique automático que te leva para o YouTube ou para um portal de notícias. Hoje, a tela é uma ferramenta, não um passatempo.
A ideia é criar bolsões de silêncio e presença ao longo do dia. O resultado é o mesmo: a ansiedade diminui, os pensamentos se acalmam e você recupera uma sensação de controle sobre o seu próprio tempo e atenção. Não é sobre se isolar do mundo, é sobre escolher conscientemente quando e como você se conecta a ele.
3. O Dia da “Side Quest”: A Mini-Aventura
A gente se acostuma a pensar que aventura exige um passaporte carimbado e uma conta bancária recheada. Bobagem. A aventura de verdade está em quebrar a rotina, em fazer algo que seu cérebro não estava esperando.
Uma vez por mês, agende a sua “Side Quest” (ou missão secundária, para os não iniciados). É um dia para colecionar um pouco de XP de vida.
- Vá a um sebo e compre um livro pela capa, sem ler a sinopse.
- Pegue um ônibus para um bairro que você não conhece e simplesmente ande por lá.
- Faça uma aula experimental de algo que te assusta um pouco: escalada, dança de salão, esgrima. Por que não?
- Visite aquele museu que você sempre passa na frente, mas nunca entrou.
O objetivo não é fazer algo grandioso. É injetar uma dose de novidade na alma. É lembrar que o mapa da sua vida é muito maior do que o trajeto casa-trabalho. Essas pequenas histórias reavivam a curiosidade e te fazem sentir, de fato, o protagonista da jornada.
4. O Dia da “Restauração dos Vínculos”: Conexão Humana
Na correria, as nossas relações vão para o fim da fila. Aquele “vamos marcar” vira um adeus silencioso. Amizades e laços familiares precisam ser regados, senão morrem.
Por isso, o quarto dia é para restaurar os vínculos. É o dia de lembrar que a vida é um jogo multiplayer.
- Ligue para seus pais ou avós. Mas ligue de verdade, para ouvir, sem fazer outra coisa ao mesmo tempo.
- Chame aquele amigo(a) para um café. Aquele que você não vê há meses, mas sabe que a conversa vai fluir como se tivessem se visto ontem.
- Passe um tempo de qualidade com seu parceiro(a). Sem celular, sem TV. Só vocês. Andem de mãos dadas, conversem sobre sonhos inúteis. Reconectem-se.
No fim das contas, são essas conexões que dão cor à existência. As tarefas e metas são esquecidas, mas os momentos de real conexão com outra alma… esses ficam para sempre.
5. O Dia do “DeLorean”: Uma Viagem no Tempo
Lembra de quem você era antes de se preocupar com o imposto de renda? Antes da vida adulta te convencer de que você precisava ser sério o tempo todo?
O quinto dia é a sua máquina do tempo pessoal. É o dia de revisitar, emocionalmente, quem você já foi, para resgatar um pouco daquela alegria pura.
- Crie uma playlist com as músicas que você ouvia na adolescência. Sim, aquelas que te dão um pouco de vergonha, mas também um sorriso no rosto.
- Assista àquele filme da Sessão da Tarde que marcou sua infância. Goonies, De Volta para o Futuro, Karatê Kid.
- Coma algo que te transporte para a casa da sua avó. Aquele bolo, aquele prato específico. O paladar é uma máquina do tempo poderosa.
- Tire da gaveta aquele hobby que ficou esquecido: desenhar, tocar violão, montar um quebra-cabeça.
Não se trata de viver no passado, mas de se reabastecer com a energia pura que um dia já foi sua. É lembrar que, por baixo de todas as camadas de responsabilidade e cansaço, ainda existe aquela criança curiosa e aquele adolescente sonhador.
A vida não vai esperar você ter tempo.
Esses cinco dias são um ato de rebeldia. Uma forma de dizer ao mundo e a si mesmo: “Eu ainda estou no comando”. Se essa ideia de retomar o controle e entender melhor a própria mente te interessa, talvez você goste do meu livro, Lá, eu mergulho mais fundo nessas estratégias para dominar as emoções e parar de se autossabotar. É um passo além para quem cansou do modo automático.
Mas, por ora, comece com isso. Agende seu primeiro dia. Garanto que, ao final dele, você vai se sentir um pouco mais humano de novo.
Referências:
- Cal Newport – Digital Minimalism: https://www.calnewport.com/blog/2016/12/18/on-digital-minimalism/
- The Power of Nostalgia – The New York Times: https://www.nytimes.com/2013/07/09/science/what-is-nostalgia-good-for-quite-a-bit-research-shows.html
- The Importance of Hobbies for Well-Being – Psychology Today: https://www.psychologytoday.com/us/blog/happy-you/202208/the-importance-hobbies-well-being
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