A Arte de Deixar Pratos Cair: Porque Preferir Também é Preterir

Aprenda a diferenciar os pratos de 'porcelana' e 'borracha' para focar no que realmente importa.

Homem no palco fazendo malabarismo com pratos giratórios, ilustrando o conceito de equilibrar as múltiplas prioridades da vida.

A vida moderna nos transforma em equilibristas, mas a sabedoria está em saber quais pratos são de porcelana.

E aí, pessoal. Gleydson por aqui, direto do meu bunker para mais um daqueles papos retos sobre a vida. Hoje, quero falar sobre uma frase que ficou martelando na minha cabeça:

preferir é, também, preterir.

Simples, direta e, quando você para pra pensar, quase brutal na sua honestidade.

Durante anos, eu imaaginei que era “multitarefa”. Sabe como é, né? Responder e-mail enquanto participa de uma reunião, planejar o fim de semana enquanto finaliza um relatório e, de quebra, tentar não quebrar o dispositivo que estava montando. A gente se sente o próprio Doutor Octopus, com um tentáculo para cada demanda, acreditando na lenda de que damos conta de tudo. Mas a real? A gente acaba não fazendo nada direito. A ficha caiu pra mim: uma coisa de cada vez, com foco e esmero, sempre supera dez coisas feitas nas coxas.

Essa constatação me levou a uma imagem que não me sai da cabeça: a do equilibrista de pratos no circo. A vida, muitas vezes, nos coloca nesse picadeiro. Cada prato girando na ponta de uma vareta é uma área da nossa vida: trabalho, família, saúde, amigos, projetos pessoais, finanças… E nós, ali no centro, correndo de um lado para o outro numa dança frenética para que nada despenque.

No começo, a gente até consegue. Com a energia da juventude e uma boa dose de cafeína, mantemos tudo girando. Mas o tempo passa, mais pratos são adicionados e o fôlego diminui. Inevitavelmente, algo vai cair. E é aqui que a porca torce o rabo. A gente se desespera, se culpa, se sente um fracasso. Mas e se o segredo não for evitar a queda, mas escolher conscientemente o que deixar cair?

Aí que entra a sabedoria de Bryan Dysonque, ex-CEO da Coca-Cola, que reorganizou minha forma de ver as coisas. Em seu discurso mais famos ele diz que, nessa nossa performance circense, temos dois tipos de pratos girando, uns de vidro e outros de borracha.

Mas especificamente as cinco bolas da vidaEle usou essa metáfora para ilustrar a importância do equilíbrio entre trabalho, família, saúde, amigos e espírito. 

O discurso original, proferido em 1991 no Georgia Tech, compara a vida a um jogo onde se equilibram cinco bolas no ar.
Uma delas, o trabalho, é de borracha, e as outras quatro (família, saúde, amigos e espírito) são de vidro. Se você deixar cair a bola de borracha, ela volta. No entanto, se deixar cair uma das bolas de vidro, ela pode se danificar, quebrar ou se estilhaçar, nunca mais sendo a mesma. 
O discurso de Dyson enfatiza que é crucial entender essa diferença e priorizar as áreas da vida que são mais frágeis e valiosas, buscando um equilíbrio saudável entre todas as esferas. Ele também destaca a importância de viver o presente e valorizar cada momento, pois o passado é história e o futuro é incerto. 
Adaptando essa visão eu criei a minha própria
  1. Os meus pratos de vidro: Estes são sua família, seus relacionamentos, sua saúde física e mental, seus valores. São frágeis, de valor inestimável. Se caírem, eles se espatifam em mil pedaços e, mesmo que você tente colar, nunca mais serão os mesmos.
  2. Os meus pratos de borracha: Estes são a carreira, o patrimônio, os bens materiais. São importantes, claro, mas são resilientes. Se caírem, eles quicam. Podem até pegar um pouco de poeira, mas não quebram. Você pode pegá-los de volta, limpá-los e colocá-los para girar outra vez.

Essa analogia é de uma clareza absurda, não acha? Quantas vezes a gente não se mata para manter um prato de borracha no ar, enquanto o de vidro, ali do lado, já está bambeando perigosamente?

Aceitar que alguns pratos vão cair é, no fundo, aceitar nossa própria humanidade. É entender que não temos superpoderes. Eu sei, eu também cresci lendo gibis e queria ser o Superman, resolvendo tudo sem uma gota de suor. Mas nós não somos de Krypton. Somos feitos de carne, osso e limites. A vida não é uma linha reta e perfeita; ela é cheia de ventos inesperados que ameaçam nossa estabilidade.

A grande virada de chave acontece com o autoconhecimento. Quando você sabe, de verdade, o que é de vidro e o que é borracha para você, a decisão de preterir algo se torna um ato de sabedoria, não de falha. Priorizar deixa de ser um conceito de livro de produtividade e vira uma ferramenta de sobrevivência e bem-estar.

E, claro, isso exige comunicação e transparência. Quando você está ciente das suas prioridades, consegue explicar para as pessoas ao seu redor – seu chefe, sua família, seus amigos – o porquê de certas escolhas. Ninguém precisa adivinhar. E o mais legal é que, na maioria das vezes, as pessoas não apenas entendem, como também ajudam a segurar as pontas.

No fim das contas, a vida adulta talvez seja sobre isso: se tornar um equilibrista mais inteligente. Um que não se desespera com a iminência da queda, mas que tem a serenidade de proteger a porcelana, mesmo que isso signifique ver a borracha quicando no chão de vez em quando. 😉

Porque, no silêncio das nossas escolhas, a gente reafirma o que realmente importa.

 

Referências:

  • A Origem da Analogia dos Pratos (ou Bolas): A Harvard Business Review discute o famoso discurso de Bryan Dyson, ex-CEO da Coca-Cola, que é a fonte original da analogia das bolas de vidro e de borracha, um conceito central do nosso post.
  • O Mito da Multitarefa:O site da American Psychological Association (APA) apresenta pesquisas que demonstram como a multitarefa, na verdade, prejudica a produtividade e a qualidade do trabalho, validando a premissa inicial do texto.
  • Essencialismo e Priorização:O site oficial de Greg McKeown, autor de “Essencialismo”, aprofunda a ideia de fazer menos, porém melhor, e a importância de identificar o que é verdadeiramente essencial — um pilar para a escolha consciente dos “pratos”.
  • Vulnerabilidade e Imperfeição: A pesquisadora Brené Brown, em seu famoso TED Talk (e em seus livros), explora como aceitar a vulnerabilidade é uma fonte de força, corroborando a ideia de que devemos aceitar que não somos “super-heróis”.
  • Equilíbrio entre Vida Profissional e Pessoal: A revista Forbes frequentemente publica artigos sobre o esgotamento (burnout) e a importância de estabelecer limites, ecoando a metáfora do equilibrista de pratos e a necessidade de proteger a “porcelana”.
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