E aí, pessoal. Gleydson por aqui, direto do meu bunker para mais um daqueles papos retos sobre a vida. Hoje, quero falar sobre uma frase que ficou martelando na minha cabeça:
preferir é, também, preterir.
Simples, direta e, quando você para pra pensar, quase brutal na sua honestidade.
Durante anos, eu imaaginei que era “multitarefa”. Sabe como é, né? Responder e-mail enquanto participa de uma reunião, planejar o fim de semana enquanto finaliza um relatório e, de quebra, tentar não quebrar o dispositivo que estava montando. A gente se sente o próprio Doutor Octopus, com um tentáculo para cada demanda, acreditando na lenda de que damos conta de tudo. Mas a real? A gente acaba não fazendo nada direito. A ficha caiu pra mim: uma coisa de cada vez, com foco e esmero, sempre supera dez coisas feitas nas coxas.
Essa constatação me levou a uma imagem que não me sai da cabeça: a do equilibrista de pratos no circo. A vida, muitas vezes, nos coloca nesse picadeiro. Cada prato girando na ponta de uma vareta é uma área da nossa vida: trabalho, família, saúde, amigos, projetos pessoais, finanças… E nós, ali no centro, correndo de um lado para o outro numa dança frenética para que nada despenque.
No começo, a gente até consegue. Com a energia da juventude e uma boa dose de cafeína, mantemos tudo girando. Mas o tempo passa, mais pratos são adicionados e o fôlego diminui. Inevitavelmente, algo vai cair. E é aqui que a porca torce o rabo. A gente se desespera, se culpa, se sente um fracasso. Mas e se o segredo não for evitar a queda, mas escolher conscientemente o que deixar cair?
Aí que entra a sabedoria de Bryan Dysonque, ex-CEO da Coca-Cola, que reorganizou minha forma de ver as coisas. Em seu discurso mais famos ele diz que, nessa nossa performance circense, temos dois tipos de pratos girando, uns de vidro e outros de borracha.
Mas especificamente as cinco bolas da vida. Ele usou essa metáfora para ilustrar a importância do equilíbrio entre trabalho, família, saúde, amigos e espírito.
- Os meus pratos de vidro: Estes são sua família, seus relacionamentos, sua saúde física e mental, seus valores. São frágeis, de valor inestimável. Se caírem, eles se espatifam em mil pedaços e, mesmo que você tente colar, nunca mais serão os mesmos.
- Os meus pratos de borracha: Estes são a carreira, o patrimônio, os bens materiais. São importantes, claro, mas são resilientes. Se caírem, eles quicam. Podem até pegar um pouco de poeira, mas não quebram. Você pode pegá-los de volta, limpá-los e colocá-los para girar outra vez.
Essa analogia é de uma clareza absurda, não acha? Quantas vezes a gente não se mata para manter um prato de borracha no ar, enquanto o de vidro, ali do lado, já está bambeando perigosamente?
Aceitar que alguns pratos vão cair é, no fundo, aceitar nossa própria humanidade. É entender que não temos superpoderes. Eu sei, eu também cresci lendo gibis e queria ser o Superman, resolvendo tudo sem uma gota de suor. Mas nós não somos de Krypton. Somos feitos de carne, osso e limites. A vida não é uma linha reta e perfeita; ela é cheia de ventos inesperados que ameaçam nossa estabilidade.
A grande virada de chave acontece com o autoconhecimento. Quando você sabe, de verdade, o que é de vidro e o que é borracha para você, a decisão de preterir algo se torna um ato de sabedoria, não de falha. Priorizar deixa de ser um conceito de livro de produtividade e vira uma ferramenta de sobrevivência e bem-estar.
E, claro, isso exige comunicação e transparência. Quando você está ciente das suas prioridades, consegue explicar para as pessoas ao seu redor – seu chefe, sua família, seus amigos – o porquê de certas escolhas. Ninguém precisa adivinhar. E o mais legal é que, na maioria das vezes, as pessoas não apenas entendem, como também ajudam a segurar as pontas.
No fim das contas, a vida adulta talvez seja sobre isso: se tornar um equilibrista mais inteligente. Um que não se desespera com a iminência da queda, mas que tem a serenidade de proteger a porcelana, mesmo que isso signifique ver a borracha quicando no chão de vez em quando. 😉
Porque, no silêncio das nossas escolhas, a gente reafirma o que realmente importa.
Referências:
- A Origem da Analogia dos Pratos (ou Bolas): A Harvard Business Review discute o famoso discurso de Bryan Dyson, ex-CEO da Coca-Cola, que é a fonte original da analogia das bolas de vidro e de borracha, um conceito central do nosso post.
- O Mito da Multitarefa:O site da American Psychological Association (APA) apresenta pesquisas que demonstram como a multitarefa, na verdade, prejudica a produtividade e a qualidade do trabalho, validando a premissa inicial do texto.
- Essencialismo e Priorização:O site oficial de Greg McKeown, autor de “Essencialismo”, aprofunda a ideia de fazer menos, porém melhor, e a importância de identificar o que é verdadeiramente essencial — um pilar para a escolha consciente dos “pratos”.
- Vulnerabilidade e Imperfeição: A pesquisadora Brené Brown, em seu famoso TED Talk (e em seus livros), explora como aceitar a vulnerabilidade é uma fonte de força, corroborando a ideia de que devemos aceitar que não somos “super-heróis”.
- Equilíbrio entre Vida Profissional e Pessoal: A revista Forbes frequentemente publica artigos sobre o esgotamento (burnout) e a importância de estabelecer limites, ecoando a metáfora do equilibrista de pratos e a necessidade de proteger a “porcelana”.