O Pássaro Azul

Charles Bukowski

Pássaro Azul

Quando tens certeza que há algo a  mais em você, mas prende dentro de si temendo que esse novo “eu” possa ser mais forte e dominante que o atual, quando você pressente que está encarando um “Taylor Durden”, um “Edward Hyde” ou uma criatura nas proporções do “Incrível Hulk”.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.

depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?

Charles Bukowski, em “Textos autobiográficos, de Charles Bukowski”

O Pássaro Azul é um dos poemas mais conhecidos de Charles Bukowski, e é uma profunda meditação sobre como constantemente sufocamos nossos impulsos pessoais sob uma armadura externa construída para nos proteger do mundo.

Também é muito importante por mostrar um lado quase não visto do escritor, pois seu alter ego Henry Chinaski constantemente vive em face das bebedeiras, vida boemia, atitudes autodestrutivas e rodeado por mulheres completamente loucas, como ele. Isso completa a lacuna que sentimos ao mergulhar em suas obras, de um lado menos pessimista e mais claro, longe do tom cinzento de grande parte de sua obra.

Originalmente chamado “Bluebird”, o poema foi publicado em 1922 como parte de sua antologia The Last Night of the Earth Poems.

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