Tem uma cena ótima na série O Estúdio, da Apple TV, que me fez pensar muito sobre um pequeno detalha na situação que ocorreu. O personagem Matt Remick, interpretado pelo magífico Seth Rogen, que é diretor de um estúdio de cinema e por isso está acostumado a um universo mais descolado e alternativo, resolve acompanhar a sua nova namorada, uma médica oncologista pediatra, em um evento de gala da área dela (evento beneficiente contra o câncer). Para a ocasião, ele veste o que considera o auge da sofisticação: um terno marrom impecável, feito à mão por alfaiates. Na cabeça dele, ele está um verdadeiro lorde.
No entanto, ao chegar na festa, ele se depara com um mar de smokings pretos. O seu terno marrom, que era um símbolo de estilo e personalidade no seu mundo, ali se torna um sinal de que ele é um peixe fora d’água, um elemento “exótico”. O olhar dos outros médicos diz tudo. Ele em si leva tudo na esportiva e se diverte, mas já presenciei pessoas desistindo até de permancer no local por conta de coisas deste tipo.
Essa cena é o retrato perfeito daquele momento em que o nosso orgulho encontra o muro da opinião alheia. Mas ela também me fez pensar no caminho inverso… naquele momento que vem antes de tudo isso.
Sabe aquela sensação quase mágica? Você bate o olho em algo — uma jaqueta de couro com um corte diferente, um livro de um autor desconhecido, uma música que ninguém mais parece entender — e um sorriso brota no seu rosto. É um clique. Uma conexão instantânea. Naquele momento, aquela escolha é um pedaço de você, e você já se imagina desfilando por aí com sua nova “descoberta”.
Aí vem a vida real. Você veste a tal jaqueta, todo orgulhoso da sua audácia, e o primeiro comentário que ouve é:
“Hmm… interessante. Não sei se eu teria coragem”.
E pronto. Aquele balão de alegria que flutuava sobre a sua cabeça murcha e cai, pesado, no seu estômago.
De repente, a jaqueta já não parece tão legal. A cor parece chamativa demais, o corte, talvez, um pouco esquisito. A dúvida se instala como uma névoa fria, e você começa a se questionar:
“será que eu errei?”.
Se essa cena soa familiar, saiba que você não está sozinho nesse barco. E, acredite, essa história é muito menos sobre roupas e muito mais sobre o espaço que damos para a opinião alheia morar dentro de nós.
O eco na nossa cabeça é sempre mais alto
É curioso, não é? Como uma simples frase, muitas vezes dita sem a menor intenção de machucar (ou não), tem o poder de nos desmontar. Passamos da certeza à insegurança em segundos. O problema é que o comentário externo só ativa um gatilho. A voz que realmente nos fere, que nos joga para baixo, é a nossa própria.
É aquele crítico interno que pega o microfone e grita:
“Viu? Você sempre faz a escolha errada.”
“Deveria ter comprado algo mais básico, mais seguro.”
“É por isso que não dá pra confiar no seu próprio gosto.”
Entregamos o poder da nossa satisfação de bandeja para um júri que nem sequer pedimos. Seja uma roupa, uma ideia de projeto no trabalho, ou até mesmo uma nova faceta da nossa personalidade que estamos tentando cultivar, parece que vivemos esperando por uma aprovação que, no fundo, nunca foi necessária.
Sua armadura não precisa da aprovação dos outros
Pense no Tony Stark. Ele não montou a armadura do Homem de Ferro esperando que o Capitão América achasse o design bonito ou que o Hulk aprovasse a paleta de cores. Aquela armadura era uma extensão de quem ele era: genial, um pouco exibido, funcional e, acima de tudo, sua. Era a pele que ele escolheu para si.
O personagem do Seth Rogen, com seu terno marrom, estava vivendo exatamente isso. Para aquele grupo, ele era estranho. Mas a questão é: ele estava ‘errado’? Ou ele estava apenas sendo ele mesmo, em um ambiente que não estava acostumado com o seu ‘normal’?
Suas escolhas são a sua armadura. Elas não precisam ser unanimidade. Na verdade, o fato de alguém não “entender” a sua jaqueta, o seu filme preferido ou o seu novo hobby pode ser o sinal mais claro de que, finalmente, você está fazendo uma escolha 100% sua. Uma escolha que não foi diluída pela expectativa dos outros.
Você tem permissão para gostar de coisas só porque… bem, porque você gosta. Simples assim.
A coragem de ser o seu próprio lar
Então, da próxima vez que um comentário atravessado tentar roubar a sua alegria, respire fundo. Lembre-se daquele primeiro momento, daquela conexão genuína que você sentiu. Aquilo foi real. A dúvida é só um eco.
Não encolha o seu universo para que ele caiba na sala de visitas de outra pessoa. Se algo parece seu lar, se uma escolha te veste como uma segunda pele, não peça desculpas por isso.
Afinal, a escolha era sua desde o começo. E isso, meu amigo, é a única coisa que realmente importa. Quando a gente para de se desculpar por ser quem é, inspira os outros a fazerem o mesmo. E talvez esse seja o maior ato de coragem de todos. 😉
Referências:
- Psychology Today: The Need for Approval
- Verywell Mind: How to Stop Worrying About What Other People Think
Imagem:
- Créditos: Apple TV+