Sabe qual é um dos maiores prazeres secretos da minha vida? Pegar uma caneta colorida e riscar um item de uma lista que eu mesmo escrevi. Pode parecer bobagem, mas para mim, é uma pequena vitória numa batalha diária contra a minha própria mente. Concluir qualquer coisa, por mais simples que seja, muitas vezes se transforma numa odisseia particular e exaustiva.
Fazer aquele “check”✅ dá um prazer inenarrável!
A verdade? Minha mente é meio bugada. E isso vale para a tarefa mais banal, como lavar a louça, até aquelas que eu e o universo sabemos que talvez nunca saiam do papel. E quer saber? Tudo bem. Como diria o mestre Kurt Vonnegut, “coisas da vida“.
A “Checklist” que a gente não pediu
Parece que a minha geração já nasceu com um contrato invisível, uma espécie de “missão principal” de um jogo de RPG que nunca pedimos para jogar. Sabe qual é, né? A tal cartilha da vida plena, que insiste em três objetivos master:
- Plantar uma árvore 🌳
- Formar uma família 👨🏽🍼
- Escrever um livro 📖
Por muito tempo, eu encarei isso como um placar a ser zerado. Mas, outro dia, uma coisa me bateu: quem, exatamente, escreveu essa lista? E com que autoridade? Por que esses três itens e não, sei lá, aprender a fazer o ovo frito perfeito, viajar para um lugar onde ninguém te conhece ou simplesmente dominar a arte de não fazer absolutamente nada e ficar em paz com isso?
Essa busca por validar um roteiro que não criamos é a maior armadilha. Ela nos joga numa corrida por troféus que, no fundo, talvez a gente nem queira na nossa estante. A verdade é que a minha “missão principal” pode ser completamente outra. Talvez a minha maior conquista seja justamente amassar essa lista pré-aprovada e escrever a minha, com os meus próprios termos, por mais tortos e sem sentido que eles pareçam para os outros.
Eu sou a Lei!
A gente vive se cobrando uma performance de alto nível, criando listas de tarefas que parecem feitas para nunca serem completadas. É como se a sociedade, convenientemente, só olhasse para onde a lanterna aponta, ignorando todo o resto que fica no escuro. Então, eu finjo que está tudo completo e sigo o baile.
A verdade é que eu só quero sentir o gostinho da vitória por alguns segundos. Ter aquela sensação interna de completude, sabe?
Cansei de cair no papo de que você precisa “encontrar o seu estilo” ou que algo só tem valor se for perfeito. Desde o dia em que decidi que meus rabiscos tortos eram o “meu estilo de desenho“, tudo ficou mais leve. Chame de “autoral” se quiser impressionar no LinkedIn.
Essa lógica vale para tudo: para a forma como você escreve, para as fotos que tira sem o ângulo ou a luz perfeita, e principalmente, para as suas listas. Elas servem para o que você quiser.
Então, quando me sinto intimidado por alguma voz imaginária da internet, por aquele personagem deprimente que insiste em ditar regras, eu respiro fundo e repito a minha frase favorita do Juiz Dredd: “Eu sou a lei!”.
Eu faço minhas próprias listas. Eu risco os itens na ordem que eu bem entender. Minha letra é essa mesma, não tem outra mais bonita. Escrevo torto em linhas retas e me recuso a preparar um cenário “aesthetic” para uma foto. O que eu tenho é isso aqui, e é real.
Então, da próxima vez que você se sentir mal com a sua letra, com seus desenhos ou com aquela tarefa que não sai do lugar, lembre-se disso. Liberte-se. A vida não é sobre zerar uma lista de tarefas imposta, mas sobre criar a sua própria e ter a coragem de riscar os itens do seu jeito, com a sua caneta, mesmo que a tinta falhe de vez em quando.
Referências:
- O Efeito Psicológico de Riscar Tarefas (The Zeigarnik Effect): Psychology Today – The Zeigarnik Effect: Why Our Brains Love to-Do Lists
- A Origem da “Lista de Vida” (Plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro): El País – ¿Quién dijo aquello de “plantar un árbol, tener un hijo y escribir un libro”?
- A Batalha Contra o Perfeccionismo: Harvard Business Review – How to Overcome Perfectionism
- O Poder da Autoaceitação: Forbes – The Power Of Self-Acceptance And How To Practice It
- Análise Cultural de ‘Dredd’ (2012): Den of Geek – Dredd: The Underrated Masterpiece That’s Now A Cult Classic
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