Eu ‘devoro’ 5 Audiolivros por Semana, mas Decidi Não os Contar mais como Leitura

Uma reflexão sincera sobre foco, assimilação e o prazer de ler.

Homem deitado em um sofá laranja em uma área externa, relaxando com as mãos na cabeça enquanto ouve algo com fones de ouvido, ilustrando o consumo de audiolivros.

O audiolivro como companhia para momentos de relaxamento e lazer. Foto: Arquivo Pessoal.

Sabe, eu tenho uma confissão para fazer. Se você olhasse o tempo que eu passo consumindo livros, poderia me chamar de um leitor voraz. Toda semana, de três a cinco novas histórias ou conceitos entram na minha cabeça através dos fones de ouvido. Enquanto faço alguma coisa de casa, enquanto caminho no parque, enquanto dirijo. O problema? Se você for ao meu perfil no Goodreads, não vai encontrar nenhum deles.

Há um tempo, eu bati o martelo em uma decisão que pode parecer polêmica para alguns: eu não listo mais audiolivros como “livros lidos”. E antes que você pegue a sua tocha e o ancinho, calma. 😉 Eu não estou aqui para ser o fiscal da leitura alheia ou para decretar o que é válido ou não. Longe disso. Essa é uma reflexão sobre o meu processo, a minha mente e, principalmente, sobre o porquê eu leio.

A magia da página marcada

 

A primeira grande virada de chave para mim foi a assimilação. Com livros de texto, seja no bom e velho papel ou na tela iluminada do Kindle, a minha relação com as palavras é diferente. É um diálogo ativo. Eu posso parar, reler uma frase que me atingiu como um soco no estômago, grifá-la, fazer uma anotação no canto da página. Aquela passagem se torna minha. Ela fica ali, marcada, como um lembrete de uma epifania ou de um sentimento.

No audiolivro, a experiência é mais passiva, mais etérea. A mesma frase impactante pode passar voando, e quando meu cérebro a processa, o narrador já está três parágrafos à frente. A ideia de “voltar” é um caos. Onde foi mesmo que ele disse aquilo? No minuto 15:32 ou 16:04? A frustração de tentar encontrar a agulha no palheiro de áudio muitas vezes me faz desistir.

Meu cérebro, o Flash, e a batalha pelo foco

 

Eu tenho o que essa nova geração brilhantemente rotulou de TDAH. Eu, particularmente, prefiro um termo menos clínico: uma mente distraída. Minha cabeça é um navegador com 37 abas abertas ao mesmo tempo, e todas estão tocando um som diferente. E é aqui que a analogia com a cultura pop se faz necessária.

Às vezes, sinto que meu cérebro opera como o do Flash. Não pela genialidade ou supervelocidade, mas pela torrente de informações que chegam simultaneamente. Ele consegue processar o mundo em um ritmo frenético, mas para ter uma conversa normal, precisa se forçar a desacelerar. Para mim, o audiolivro é o mundo em velocidade normal enquanto minha mente já está correndo na próxima esquina. Eu me pego pensando no projeto que tenho que entregar amanhã, na ideia para um novo modo mais otimizado de fazer algo que preciso, e de repente… perdi o fio da meada. O protagonista tomou uma decisão crucial, e eu não estava lá para ver.

O livro físico, ou o digital, age como a minha âncora. Ele me força a sentar e focar em uma única coisa. Se a mente viaja, meus olhos estão ali, parados no mesmo parágrafo, me esperando voltar. É só reler a última linha e pronto, estou de volta à história. É um portal para um único universo, não um ruído de fundo em meio ao multiverso da minha cabeça.

Não é sobre o formato, é sobre o objetivo

 

No fim das contas, minha decisão não é um julgamento sobre o valor dos audiolivros. Eles são uma ferramenta fantástica de acesso à cultura, ao entretenimento e ao conhecimento. Permitem que pessoas com deficiência visual ou rotinas malucas possam mergulhar em outras realidades.

Para mim, a questão é de objetivo. Eu uso audiolivros para entretenimento, para ter companhia, para absorver histórias de forma mais ampla. Mas quando eu busco aprender, estudar, me conectar profundamente com as ideias de um autor… aí eu preciso do texto. Preciso da minha caneta marca-texto, das minhas anotações, da minha âncora.

E é por isso que eles não entram no meu Goodreads. Aquela ali é a minha prateleira de diálogos, de livros com os quais eu lutei, concordei e aprendi de forma ativa. E tá tudo bem ter duas prateleiras diferentes, uma para cada tipo de experiência.

E você? Como é a sua relação com os audiolivivros? Eles entram na sua lista oficial de leitura? Me conta aqui nos comentários, vou adorar saber.

 

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