“Notificações… Talvez devêssemos parar de chamá-las de Notificações e, em vez disso, nos referirmos a elas como Interrupções”.
Essa constatação ecoa profundamente em meus pensamentos e, para mim, faz todo o sentido.
Por que será que consigo me concentrar plenamente em um livro físico ou no Kindle? A resposta é simples: eles não emitem notificações! Essa ausência de alertas constantes permite uma imersão total na leitura.
A palavra “notificação” soa formal, quase institucional. Carrega consigo uma aura de importância, como se cada alerta fosse um comunicado oficial exigindo nossa atenção imediata. Contudo, sejamos sinceros, em 99% das vezes não é o caso. Não se trata de um telegrama urgente. É, na maioria das vezes, o celular vibrando para nos informar que alguém que não vemos há uma década compartilhou a foto de um felino, ou que um aplicativo busca nos “engajar” com alguma promoção efêmera.
Em contraste, “interrupção” é um termo direto e honesto. Descreve com precisão o que de fato acontece: a quebra do nosso fluxo de pensamento. O “estado de fluxo (FLOW)”, aquela concentração mental tão valiosa e difícil de alcançar, é abruptamente estilhaçado. É como se, no meio de uma frase crucial, fôssemos incessantemente cutucados no ombro. É a representação digital da Navi, do jogo Zelda, repetindo “Hey! Listen!” em nossos ouvidos a cada poucos segundos. Irritante, não é? Exatamente.
Comecei a praticar esse exercício mental. A cada sinal sonoro do celular, em vez de pensar “ah, uma notificação”, o pensamento imediato era: “lá vem mais uma interrupção”. Essa simples mudança de perspectiva gerou um impacto imediato. Percebi o quão passivo eu me tornara diante desses alertas. Quantas ideias originais e promissoras se dissiparam porque o brilho da tela se mostrou mais atraente? Quantas conversas presenciais perderam sua profundidade porque meu olhar desviou para o aparelho por “apenas um instante”?
Foi então que tomei a decisão mais libertadora: a purga das notificações. Mergulhei nas configurações do smartphone e, sem hesitar, desativei quase tudo. Mantive apenas o essencial: chamadas e mensagens de contatos específicos. O restante? Silenciei completamente.
Inicialmente, confesso, senti aquele incômodo, a chamada “nomofobia”, o receio de estar perdendo algo importante. No entanto, essa ansiedade logo cedeu espaço a uma serenidade que eu sequer lembrava existir. Redescobri a capacidade de me dedicar à leitura de um livro por uma hora inteira, de escrever um texto como este sem distrações visuais, de manter conversas olhando nos olhos do interlocutor.
Acredito que poderíamos normalizar essa nova postura. Adotar uma comunicação mais consciente, com trocas como:
– “E aí, tudo certo?”
– “Tudo ótimo! Só um pouco focado aqui, desativei as interrupções para me concentrar em algumas coisas.”
– “Boa! Faz muito bem.”
Simples assim. Sem a pressão social de estarmos incessantemente disponíveis. Afinal, não estamos, e talvez nem deveríamos estar. Necessitamos de tempo e espaço para refletir, para criar, para viver plenamente sem o barulho constante da urgência fabricada. Precisamos de menos notificações e, inegavelmente, de muito mais foco e presença no momento.
E você, como tem enfrentado a sua batalha contra as interrupções digitais?
Referências: