Síndrome de Burnout: como saber se tenho e o que fazer a respeito?

O primeiro passo para a cura e descobrir que está doente

Viciado em trabalho

Resolvi fazer esse artigo para responder a três perguntas de quem está se sentindo cansado e exausto…

Você está com exaustão?

Veja se você se identifica com esse relato:

– A semana foi péssima. O dia muito estressante e essa noite de sono foi horrível. Dormi por volta de 7 horas, mas o sono não foi o suficiente para descansar o corpo, ou seja, acordei pior do que quando fui dormir.

06 horas da manhã. O celular desperta com um toque horrível, e eu faço um esforço Hercúleo para desligar aquela sinfonia horrível. Olho para a tela e vejo: o aparelho já está repleto de mensagens.

Como não dá tempo de ler tudo, vou para a mesa tomar café com o aparelho do lado, e entre um pãozinho e outro, vou respondendo, lendo ou ignorando aquele conteúdo. Aproveito para me atualizar nas mensagens, a tragédia que aconteceu de madrugada, a cotação do dólar ou como anda os assuntos políticos do dia. Terminado o café, eu me dou conta que nem começou o dia e  já sei que não vai dar para dar conta daquilo tudo que chegou para mim.

O início do expediente é traumático. É tanta coisa junta que, enquanto dou conta de uma tarefa, já começo a perder o foco de tanto pensar nas próximas. Tudo é urgente, que não tenho tempo de resolver o que realmente é importante.

Resultado: estou a uma hora inteira em frente à tela do computador e ainda não saiu nada do que eu desejava fazer naquela manhã. Como não tenho mais cabeça para trabalhar, a mente começa  a viajar no feed do facebook ou nas intermináveis listas de mensagens do WhatsApp, que não para de pipocar suas notificações na tela desligada do celular.

Derrepente aparece uma notificação urgente na tela. É a minha parceira solicitando que eu mande para ela um documento do aluguel de uma vaga que temos disponível na garagem do condomínio. É o suficiente para me irritar. Será que ela não percebe que estou ocupado? Toda hora me pedindo uma coisa, não tenho mais paciência para ela, porque ela mesma não faz essa droga de documento?

O problema

Quando sua mente chega nesse ponto começa a aparecer os sintomas da exaustão: você começa a se tornar uma pessoa irritante, tudo te deixa no limite. Não consegue achar mais tempo para se alimentar direito, começa a comer fast food, biscoitos ou salgadinhos porque não tem tempo nem paciência para fazer sua comida, não cuida mais de sua aparência. Não consegue parar para falar com seus amigos, sentar em um estabelecimento para tomar um café e não tem nem forças para se exercitar.

Olhe bem, o dia-a-dia  no século XXI está cada vez mais dinâmico e frenético, as coisas evoluem com rapidez, mas o ser humano levou centenas de milhares de anos para chegar no nível que está hoje… Seu corpo não está preparando fisicamente para dar conta desta velocidade de forma natural. Esse cansaço que está sentindo tem um nome: Síndrome de Burnout.

O que é a Síndrome de Burnout?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) Síndrome de Burnout é “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”. Seus sintomas principais são três:

Um estudo realizado pelo ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil) em 2018, mostra que 72% da população brasileira tem problemas crônicos com estresse em vários níveis e dentre esses, 32% acabam desenvolvendo a Síndrome de Burnout.

Dada a nossa situação econômica atual, 92% destas pessoas declararam que não tem condições de trabalhar, mas continuam exercendo suas profissões normalmente por receio de serem demitidos. Esse quadro leva 49% destas pessoas apresentarem depressão.

A maior parte destas pessoas acaba chegando ao ponto de praticar o presenteísmo, ou melhor falando, elas estão presentes fisicamente no ambiente de trabalho, mas emocionalmente ou mentalmente ficam distantes, com “a cabeça em outro lugar”.

O burnout é um cansaço tão profundo que a pessoa que sofre desse mal não tem energia para nada. Nem mesmo um feriado, férias, um encontro com parentes, nada mais consegue melhorar a situação da pessoa.

Muita das vezes é difícil descobrir que pessoas do nosso convívio (ou até nos mesmos) estão com o burnout. O diagnóstico é confundido com fraqueza, pois observamos pessoas que vivem em situações iguais ou até piores e “dão conta do recado”, não reclamam e conseguem fazer muitas atividades mesmo tendo a mesma quantidade de tempo que possuímos.

Não se enganem com isso, cada ser humano é único e cada um sabe do seu limite. Quando seu corpo ultrapassa a barreira do possível, mesmo com sua persistência, chegará uma hora em que o corpo não vai aguenta mais e precisará parar.

Como reconhecer o início do burnout?

Como descrevi no último parágrafo que escrevi, cada pessoa vive o burnout de uma maneira particular, mas todas apresentam algumas características comuns.

São elas:

Desgaste no engajamento: O trabalho que antes era importante para você agora não é mais. E, de repente, passa a ser tedioso, complicado e sem sentido.

Desgaste emocional: A empolgação, dedicação e segurança dentro do trabalho dão lugar à raiva, ansiedade e nos casos mais extremos, a depressão.

Desgaste de compatibilidade: que é quando a pessoa vê essa falta de encaixe como algo pessoal, o que na verdade é um problema geralmente causado pela forma como a empresa é gerida em relação ao fluxo de trabalho de seus funcionários.

Esses desgastes levam a pessoa a tomar conclusões destrutivas que vão ganhando cada vez mais força à medida que o quadro de cansaço evolui. Ela se sente sobrecarregada, sente que não tem controle sobre suas tarefas, que não é recompensada pelo que faz, que não se conecta mais com os colegas, que não é tratada com justiça e que não é remunerada de acordo com o trabalho extremo que está realizando.

Num momento os sintomas emocionais começam a se somar aos sintomas físicos, como dores musculares, espasmos, pressão alta, problemas gastrointestinais, dermatites, visão turva, insônia, etc e em casos mais extremos, essa rotina de estresse pode levar a um AVC, um infarto ou até tentativa de suicídio.

Os 12 níveis da exaustão emocional

Se você se identificou parcial ou plenamente com o que venho desenvolvendo nesse artigo, saiba que existe um passo-a-passo que pode lhe ajudar a identificar em que nível da exaustão você se encontra e assim procurar ajuda para resolver seu problema.

A síndrome de burnout não se inicia quando esses sintomas descritos se manifestam. No início a necessidade de autoafirmação e o vislumbre do sucesso fazem com que  as condições problemáticas sejam vistas como desafios e metas a serem alcançadas, por isso, é preciso especial atenção, pra não cair nestas armadilhas.

Vou descrever agora os 12 degraus:

  1. Necessidade de autoafirmação: Nesse primeiro estágio há um fascínio pela ocupação. Há uma necessidade de se mostrar muito eficiente e de assumir responsabilidades para se destacar. O perfeccionismo define esse estágio.
  2. Trabalhar cada vez mais: A pessoa começa então a apresentar dificuldade em se desconectar do trabalho, se esforçando cada vez mais. Em sua mente a persistência e dedicação lhe proprocionará alcançar o objetivo.
  3. Descuido com as próprias necessidades: nessa fase a pessoa começa a se alimentar mal, começa a tentar compensar a necessidade de trabalhar com as horas definidas para as refeições, comendo na mesa de trabalho, se alimentando de biscoitos, fastfoods ou sanduiches para economizar tempo; dorme menos para aproveitar mais o dia, ignora o cansaço e socializa cada vez menos. Começa a perder a noção das horas e não consegue nem lembrar quando foi a última vez que dormiu 8 horas seguidas ou que teve tempo para parar e observar o mundo ao seu redor.
  4. Distanciamento dos conflitos e da ansiedade crescente: nesse ponto finalmente a pessoa começa a perceber que há algo errado, vê que há dificuldades, mas ainda está com a falsa impressão que as coisas são assim mesmo e que vai dar conta do trabalho. Ainda não é real para ela. Nesse estágio começam a aparecer os problemas físicos: insônias, dores, mal-estar, cansaço, perda de memória e da capacidade de raciocínio e concentração. A pessoa ainda não associa esses problemas ao trabalho.
  5. Mudança das prioridades: há um distanciamento dos próprios valores, que também acaba se manifestando em afastamento da família, amigos e de outras relações que no passado eram importantes para a pessoa. A vida passa a ser vivida em função do trabalho e esta se torna a única medida da autoestima.
  6. Negação dos problemas emergentes: a vítima da síndrome nessa fase começa a sentir que os dias são cada vez mais ruins e a frustrantes. Ela torna-se cada vez mais crítica com todos, dos colegas aos chefes. Os contatos sociais se tornam mais cínicos e agressivos.
  7. Isolamento: Nessa fase a pessoa passa a recusar contato com as outras pessoas. Evita encontros e reuniões presenciais, isolando-se em seu mundo e dando prioridade aos contatos virtuais.
  8. Começo das mudanças comportamentais: Com frequência perde o bom humor e tem dificuldade em aceitar brincadeiras, críticas ou tolerar pessoas mais descontraídas. Fica muito irritável, “no limite”.
  9. Despersonalização: Quando o mal começa a ficar evidente a pessoa torna-se cada vez mais fria. Com a despersonalização, as pessoas ao seu redor não mais a reconhecem. Passa a fazer o mínimo necessário, a falar o mínimo e a evitar qualquer tipo de interação social mais longa.
  10. Vazio interior: nessa fase o castelo interior da pessoa começa a desmoronar. Começa a se sentir desmotivada, sem encontrar significado no trabalho e tudo o que faz da a sensação de ser complicado e desgastante. O cansaço extremo se inicia.
  11. Inicio do quadro de depressão: o desânimo e o cansaço se intensificam, a vida profissional perde o sentido e há consequências também na vida pessoal. Qualquer vício que a pessoa possui passa a se tornar obsessivo. Para compensar a sensação de impotência no controle de sua vida, a pessoa começa a se afundar em álcool, drogas, sexo, pornografia, etc (as vezes muitos destes vícios ao mesmo tempo).
  12. Síndrome de exaustão emocional: Quando tudo mais falha finalmente a pessoa tem percepção de derrota. Nessa fase vemos o colapso físico e mental completo, e aqui realmente é necessária uma intervenção médica para evitar danos irreparáveis ao corpo e a mente da pessoa que passa por esse quadro.

Como pode ver, a doença acontece como naqueles filmes de terror. Inicialmente só alguns sinais, um objeto se move, um som é ouvido. No final do filme a casa está sendo destruída pelas entidades demoníacas que fazem questão de aparecer. A mesma coisa é a síndrome, onde no início só existem  pequenos sinais sutis, que parecem coisas corriqueiras da vida profissional, mas que se tornam problemas extremamente sérios no fim, problemas estes que se refletem na pessoa, em sua família e em todos ao seu redor.

Considerações finais

Atualmente nós vivemos em um mundo onde o trabalho excessivo é glorificado, onde a busca constante pela produtividade acaba forçando uma rotina de trabalho que a pessoa está o tempo inteiro no limite. Em nome de “vestir a camisa da empresa” o profissional passa a maior parte da vida no trabalho, e quando está em seu lar, permanece conectado no celular, em comunicadores e redes sociais.  A Sindrome de Burnout é muito mais do que uma questão individual, não tem nada a ver com preguiça ou falta de preparo e a solução não é simples.

O essencial é, depois de detectar que existe um problema, tirar um tempo para se cuidar e procurar com urgência o profissional capaz de te tirar do estado de burnout, e se possível se afastar do local que a levou a esse quadro. Os profissionais indicados para tratamento da Síndrome de Burnout são o psiquiatra e o psicólogo.

Esta síndrome vem acometendo mais pessoas atualmente. É um estresse prolongado que acarreta um esgotamento mental e físico e que não é uma responsabilidade apenas do trabalhador. É necessário também agir na cultura corporativa, lembrar os donos de empresas que seus subordinados são seres humanos e não apenas recursos a serem explorados.

Enquanto esse cenário mundial não muda, devemos ficar alerta. Se você identificar esses fatos em sua rotina diária, se esta vendo companheiros de trabalho nessa situação ou se identificar que  o seu local de trabalho tem essas práticas, não se omita, ajude ou aceite ajuda.

Falem com os as pessoas sobre seus problemas, seus colegas, amigos, família. Fiquem vivos.

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