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Lembro quando eu era pequeno na escola. Sempre que queríamos ver uma briga, era muito fácil fazer os ânimos se exaltarem: era só falar para um cara esquentadinho que ouviu “fulano” falar mal dele. Explorávamos uma das maiores fraquezas humanas: a necessidade de ser virtuoso, ou querer parecer ser.
Eu nunca brigava por esse motivo. Aliás, não brigo e praticamente até acho divertido quando sinto que estou sendo julgado ou mal interpretado. Salvo pelo fato de ter conhecimento, meu tratamento com a pessoa permanece inalterado. A opinião das pessoas é algo que foge ao meu controle. Explicando melhor, quando alguém fala mal de mim, ela está expressando a sua liberdade de opinião e faz isso porque acha que deve fazer. Seria impossível para mim convencer uma pessoa do que eu acho que seria certo, pois aquele sentimento que ela está expressando naquele momento é o que ela acha que é certo para ela. Todos nós somos um mundo à parte e é impossível você mudar a opinião sincera de alguém, ainda mais usando a força.
Lembro certa vez eu estava no aeroporto de Brasília pronto para embarcar em um avião para o Rio de Janeiro. Eu vinha pelo longo corredor do aeroporto conversando com uma senhora de cadeira de rodas. Ela também estava voltando para o Rio de Janeiro e ia pegar o mesmo voo que eu. Ela foi jantar e eu fui cochilar perto do portão, no final do aeroporto. Quem conhece esse local sabe como é longe. Na hora de passar a minha passagem eu percebi que a senhora não tinha conseguido chegar no portão, talvez por não ter tido ajuda do pessoal da companhia aérea depois de sua refeição. Eu me solidarizei com ela… Como não tinha bagagem para despachar, voltei para o final da fila e fiquei vendo se ela chegava. Como nada dela, comecei a tumultuar propositadamente o embarque… Deixei a mala abrir, não estava achando meus documentos, discuti com o comissário de bordo, quase fui expulso do local de embarque. As pessoas me xingavam e só não me agrediram porque além da segurança eu era um dos mais altos do ambiente. Só me acalmei quando avistei a senhorinha sendo trazida com a ajuda de um funcionário da companhia.
O resumo da situação é que eu fiz uma coisa por mim sem imaginar a opinião das pessoas a minha volta (pois de uma forma ou de outra a senhora iria embarcar), sem me preocupar com a necessidade delas… E sem pensar no julgamento delas durante os 80 minutos de voo até a minha cidade.
Peço desculpas aos meus parentes, amigos e colegas, porque as vezes faço parecer que realmente me aborreço quando sou citado dessa forma, mas uma verdade dura é que na realidade nem ligo, tanto faz. Quase sempre finjo indignação para que meu narrador fique satisfeito e não tente me defender ou realizar uma atitude péssima diante da pessoa que expressou sua opinião, como confrontá-la em meu nome: como já disse, é desnecessário.
Sei que meus parentes falam mal de mim, sei a opinião que alguns de meus chefes tem sobre a minha pessoa e meu trabalho (ainda bem que é minoria), tenho ciência do que meus subordinados pensam, sei o que meus colegas comentam quando eu saio do ambiente em que estamos… Na verdade tenho ciências de tudo, de como sou, das minhas limitações e de como sou uma pessoa terrível, egocêntrica e egoísta em alguns momentos.
Não me ofendo, de jeito nenhum, pois se todos soubessem dos outros defeitos que tenho que não são tão aparentes, falariam muito mais do que isso, disso tenho certeza.
Como todos sabem, eu tenho como livros de cabeceira em meu quarto a trindade: “as 48 Leis do Poder”, “o Príncipe” e “A Arte da Guerra”, o famoso kit sociopata, mas não fiquem chocados, toda essa personalidade maquiavélica é voltada somente para meu bem estar físico e emocional (como ocorreu no episódio em Brasília e em muitos outros), e nunca vou fazer nada que possa prejudicar uma pessoa que eu gosto, a menos que essa consequência venha de algum ato proposital que ela faça contra mim.
De qualquer forma, espero que me entendam e me julguem a vontade, pois para mim não faz a menor diferença… mesmo.