Uma das coisas que mais me prendeu na série Game of Thrones foi que, pelo menos nas 6 primeiras temporadas, não existiam heróis. Ao contrário de todas as outras produções, que você tinha o herói no lado claro contra o vilão do lado escuro, os personagens da série eram desenvolvidos em tons de cinza… Ninguém era completamente bom ou totalmente mal, e suas ações se guiavam mais pelo modo de pensar e necessidades. Eram como nós seres humanos.
Quando éramos crianças, na aurora de nossas vidas (por volta dos 4 anos) em nosso senso de solipsismo, tínhamos nossos heróis e modelos a serem seguidos. Nossos brinquedos, os heróis dos quadrinhos, nossos pais… Lembro bem que tinha uma novela chamada “Pai Herói”, um exemplo mais que completo disso.
O certo seria perdermos essa ilusão de que existem ou existiram pessoas perfeitas no mundo. Você até pode se convencer que não faz isso, mas… Pense nas pessoas cuja aprovação significa tudo para você. Estes são os seus heróis do presente, ocupam esse cargo na sua mente interior, onde você tem pouca gerência.
Mesmo involuntariamente você não as quer desapontar, fica entusiasmado quando as vê e acata cada uma das palavras que saem de seus lábios como mantras de sabedoria, e se são palavras erradas, você fica melindrado de tentar as corrigir, procurando um bom motivo para que as coisas sejam diferentes. Suas ações são as ações certas, e suas realizações e conhecimentos fazem com que você as admire.
Talvez tenhamos evoluído pouco em nossas percepções humanas por causa dos apelos de nossa geração. Fomos bombardeados desde o berço com a cultura POP, onde grande parte das mídias são produzidas a partir da jornada do Herói. São histórias de pessoas com perspectivas heroicas, que vivem aventuras sempre mantendo sua integridade e honestidade apesar de tudo o que estão passando. Embora você saiba que a ideia de um “herói” vem da ficção, você não percebe que ela também deveria acabar na ficção.
Na real, a ideia de existir um herói e um vilão à sua altura é excitante e simplista. É tão simples e digerível que nos permite entender as pessoas a nossa volta as enxergando por esse ângulo obtuso.
Muitas das vezes quando enxergamos como realmente a outra pessoa é: simples, imperfeita, frágil, humana, acabamos decepcionados.
Como agir?
Nunca chame alguém de “meu herói”, “exemplo” ou modelo a ser seguido. Esse jeito de considerar nossos semelhantes eleva a pessoa que você admira a se tornar algo mais proeminente aos seus olhos, e isso é perigoso porque como já disse, eles são simplesmente humanos.
Na real, não existem heróis. Não há pessoas totalmente boas, ou plenamente más: estas são percepções estúpidas e simplificadas demais do ser humano. Cada um de nós é capaz de realizar atos éticos ou maus em diferentes situações, só dependendo do momento e de nossas razões pessoais.
Admire os feitos extraordinários e o talento das pessoas, mas saiba questionar e analisar a pessoa como um ser humano falho. Aprenda a diferenciar a ação do agente. Preste atenção: você não teria sequer conhecido o nome daquela pessoa se ela não tivesse executado a ação que você admirou.