Na segunda-feira, enquanto pegava o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) aqui no Centro do Rio de Janeiro, um morador de rua, aparentando seus 70 anos, entrou no vagão, na altura da Estação da Candelária. Vestia roupas surradas e carregava um saco de lixo, onde guardava seus pertences e talvez algo que iria vender no ferro velho. O cheiro forte que ele exalava rapidamente esvaziou o vagão: algumas pessoas desceram e seguiram a pé, outras se amontoaram nos vagões dianteiros, enquanto os mais resistentes taparam o nariz e respiraram pela boca.
Esse episódio me fez refletir sobre o odor do corpo humano e como nossa percepção sobre ele mudou ao longo do tempo. O cheiro daquele senhor não vinha do lixo que carregava, mas de seu corpo, provavelmente sem banho por meses. Curiosamente, não muito tempo atrás, esse tipo de cheiro era comum entre as pessoas. A oleosidade natural da pele, que exala um odor específico, era algo que nossos antepassados simplesmente ignoravam. Com o avanço da higiene e a criação de produtos como desodorantes, nossa relação com o próprio odor mudou drasticamente.
No entanto, ainda há lugares onde o cheiro do corpo é mais tolerado. A famosa potência dos perfumes franceses, por exemplo, tem uma razão histórica: em regiões com invernos rigorosos, como a Europa, o banho frequente era evitado, então o perfume se tornou uma maneira de disfarçar os odores corporais.
Uma lenda interessante conta que, quando os portugueses chegaram ao Brasil, os indígenas queimavam folhas e ervas aromáticas ao caminhar com os visitantes. Inicialmente, pensava-se que era um ritual sagrado, mas na verdade o cheiro forte dos portugueses, que não tomavam banho regularmente, era insuportável para os nativos. Para os europeus, no entanto, aquilo era completamente normal.
O impacto do odor era notado principalmente na intimidade. Antigamente, a prática sexual não envolvia tantas interações físicas detalhadas como hoje. Com os fortes odores presentes, imaginar qualquer atividade mais íntima, como o uso da boca, seria extremamente desagradável.
Mais sobre cheiros: o caso de Joy Milne
O cheiro pode revelar muito sobre nós, até doenças. Um exemplo impressionante é o caso de Joy Milne, uma mulher escocesa que ganhou notoriedade por conseguir identificar pessoas com Parkinson apenas pelo cheiro. Ela percebeu que o marido começou a exalar um odor amadeirado e almiscarado anos antes de ser diagnosticado com a doença. Curiosa, Joy mencionou isso a pesquisadores, que decidiram testá-la.
Em um experimento, Joy cheirou camisetas de pessoas diagnosticadas com Parkinson e de outras saudáveis. Ela identificou corretamente todas as camisetas das pessoas com Parkinson e, inclusive, uma pessoa que até então era considerada saudável, mas que foi diagnosticada com a doença oito meses depois.
Esse caso extraordinário mostra como o corpo humano, além de emitir sinais visuais e físicos, também nos avisa sobre questões internas de maneiras que talvez não percebamos facilmente.
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